Quando a
vi pela primeira vez, tive vontade de escrever-lhe um longo poema que
falasse de amor. Nada entendia de metáforas. Busquei algumas belas
palavras no dicionário e coloquei no papel meus mais sinceros
sentimentos.
Na
sexta-feira a vi passando na rua. Entreguei-lhe o "tal"
papel com meu "poema". Exultante com minha coragem. Ela
passou o olho e sorriu com candura. Deu-me um beijo no rosto e se
foi.
Um pouco
mais tarde eu voltava para casa, deslumbrado com esse novo
sentimento. No caminho havia um muro. Do outro lado desse muro - era
alto e dava para um matagal - ouvi alguns gemidos. Subi com cautela
para ver o que era, movido por minha curiosidade. Ela estava de
joelhos, enquanto um cara gemia e gozava dentro de sua boca.
Passei o
resto da noite pensando o que havia de errado com meu longo e sincero
poema de amor.
Gustavo
Rios, in: O Amor é Uma Coisa Feia. 7 Letras
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