domingo, 28 de julho de 2013

A Menina Natural [continuação]

Vi que o livro era o memórias de minhas putas tristes, do Gabo. Disse como o livro era bom, da minha admiração pelo autor. Ela examinou a capa e esboçou um leve sorriso. Pagou e disse adeus.
No dia seguinte Ana não quebrou sua rotina, foi ao café, fez o pedido e se sentou. Tirou o livro da bolsa, abriu em uma das últimas páginas e leu. Ficou lá por uns dez minutos. Eu analisava suas expressões a medida que ela ia percorrendo as páginas, por um instante riu quase que descontroladamente. Tentei lembrar de que momento da história se tratava. Não consegui. Inevitavelmente me peguei relendo o livro, cada trecho nada poético, mas denso, o livro parecia pesar cem quilos em cerca de apenas cem páginas. Todos esses cens me deram uma vontade imensa de ler cem anos de solidão. No final daquele mês já havia lido 7 livros do autor, e assim foi. Mais alguns meses e completei todos os livros publicados dele. Continuei observando Ana, ela parou de ir ao café, mas sempre era um personagem da minha leitura.


terça-feira, 16 de julho de 2013

A Menina Natural

A simplicidade da Ana era incrível, seu olhar calmo e seu sorriso delicado, mas sem medo. Ela nunca tinha medo de sorrir. Se preciso for dava até gargalhadas. Menina meiga, que ia de ônibus para a faculdade, aproveitava o tempo para ler. Impossível ter raiva do transito assim, dizia ela, até gosto quando tem um engarrafamentinho, dá tempo de ler muito mais.
Era linda, tinha a pele morena, mas bem clarinha, cor de café com leite. Usava vestidos sempre, não nego que era viciado sem suas pernas, aliás, era viciado nela toda. Sempre a observava da minha pequena banca de jornais/livros que ficava em frente ao café onde ela fazia o desjejum, adorava tentar adivinhar o que ela ia pedir. De longe, a observava tomando seu café matinal, às vezes estava acompanhada, às vezes não. Percebi que sempre que era segunda feira pedia croissant, mais tarde fui descobrir que era o recheado com geleia de pera, meu favorito.
Certo dia Ana decidiu entrar na minha banca, não disse nem oi, foi direto para a sessão de livros. Ficavam todos empilhados quase que do chão até o teto. A banca não é grande, esse era o melhor jeito. Decidi não ir ajudar a escolher, queria ver o que ela iria decidir levar. Depois de uns trinta minutos finalmente pegou um livro branco, era edição de bolso. Olá , eu disse, conseguiu escolher bem? Aqui fica tudo meio bagunçado ... Ela olhou para o livro, esboçou um leve sorriso e me disse Acho que sim, na verdade esse aqui vou levar por obrigação.